A evolução digital das organizações está redefinindo o papel do Chief Information Security Officer. Além de proteger infraestrutura tecnológica, o CISO moderno é um líder estratégico que orquestra a convergência entre segurança cibernética, prevenção à fraude e gestão de riscos de negócio.
Quem trabalha com segurança sabe: aquelas divisões claras entre “Cyber”, “Fraude” e “Risco” que a gente aprende nos livros já não existem. Esses eventos se ligam de maneiras complexas. Para o CISO de hoje, essa não é uma questão de semântica, mas de sobrevivência e de continuidade de negócio.
Por anos, tinha-se a ideia de que a cibersegurança cuidava dos firewalls e do antivírus, a prevenção à fraude olhava para os padrões de transação e o gerenciamento de risco avaliava o balanço da empresa. Uma visão fragmentada que, no cenário de ameaças atual, é um convite ao desastre. O que um CISO precisa entender, e de fato sente na pele diariamente, é que raramente um incidente se encaixa perfeitamente em apenas uma dessas caixas.
Cyber: Mais Que Código, É Entender o Que o Atacante Quer
A base do trabalho do CISO continua sendo a proteção cibernética. É onde a batalha tática é travada contra ransomware, contra acessos indevidos, contra o comprometimento de credenciais. Mas o CISO já não pergunta apenas “como fomos atacados?”, mas “qual era o motivo do ataque?”. Um evento de phishing bem-sucedido não é só um comprometimento de e-mail; é, na maioria das vezes, o vetor inicial para uma fraude muito maior, talvez um Business Email Compromise (BEC) que visa desviar milhões.
O desafio aqui é gigantesco: sair do foco reativo para uma compreensão proativa da intenção do adversário. Precisamos ir além da detecção técnica e mergulhar na análise comportamental. É o ponto onde o expertise em cibersegurança se encontra com a necessidade de entender os fluxos de caixa, os pagamentos a fornecedores e as vulnerabilidades humanas. Um ataque de engenharia social é tão “cyber” quanto explorar uma falha de sistema.
Fraude: O Fantasma no Sistema, Disfarçado de Erro
A fraude digital é, para muitos CISOs, o “santo graal” (ou o pesadelo) que os criminosos buscam. A maior parte dos ataques de cibersegurança busca algum ganho financeiro ou algo de valor. O que torna a fraude especialmente perigosa é que ela muitas vezes se manifesta como um “erro” operacional ou uma “transação legítima”. Não é um serviço derrubado por um DDoS, que grita por atenção; é uma transferência silenciosa, um cadastro alterado, um dado vendido.
E aqui tem um ponto importante: a tecnologia que nos ajuda a detectar ataques é a mesma que os fraudadores manipulam para se esconder. Um CISO precisa de sistemas que liguem não só os alertas de segurança, mas também transações financeiras, padrões de acesso de usuários e até mesmo dados de RH. A ausência de visibilidade integrada cria pontos cegos onde a fraude prospera. O “Fusion Center” não é um nome bonito para o SOC, mas uma ferramenta vital para juntar essas informações e achar a conexão entre um alerta técnico e uma possível perda de dinheiro.
Risco: Como Explicar TI Para Quem Decide no Negócio
Finalmente, chegamos ao Risco. Se “Cyber” é a tática e “Fraude” é o objetivo do inimigo, “Risco” é a linguagem pela qual o CISO se comunica com o conselho, a diretoria e os stakeholders. É a capacidade de traduzir a complexidade de um ataque e a sutileza de uma fraude de identidade em termos de impacto financeiro, regulatório, de reputação e operacional.
Para o CISO, a gestão de risco é um exercício constante de priorização sob pressão. Com orçamentos limitados e uma infinidade de ameaças, a decisão de investir em uma tecnologia de OT Security ou em uma ferramenta de Data Protection, precisa ser feito com base no risco real que reside para aquele negócio específico. Não basta dizer “estamos vulneráveis”; é preciso quantificar “estamos vulneráveis a X, que pode custar Y e impactar Z da nossa estratégia de negócio”. Essa é a diferença entre ser um técnico e ser um estrategista.
O Novo CISO: Maestro de Uma Orquestra Complexa
Com tudo isso, o Novo CISO não é mais só um guardião de perímetros, mas o maestro de uma orquestra complexa. Ele deve:
Integrar Pessoas e Processos: Promover a colaboração entre equipes de TI, segurança, fraude, compliance, jurídica e de negócio. A relação com o Negócio não é só importante; é o que guia todas as decisões de segurança.
Alavancar Tecnologias Convergentes: Implementar soluções que ofereçam uma visão holística, como XDR para detecção e resposta estendidas, e AIOps para otimizar operações e antecipar falhas. A ideia de um Fusion Center não é um luxo, mas algo essencial para agregar contexto e reagir de forma orquestrada e automatizada, usando o melhor da tecnologia e das pessoas.
Adotar uma Gestão Contínua de Exposição a Ameaças (CTEM): Uma abordagem proativa e iterativa para identificar, avaliar e mitigar vulnerabilidades e ameaças, antes que elas se materializem em incidentes cibernéticos ou fraudes. Isso significa não esperar pelo ataque, mas buscar ativamente os pontos de exposição.
A autoridade do CISO de hoje não vem só de entender de tecnologia. Isso é um pré-requisito. Ela se constrói na capacidade de articular a complexidade do cenário de ameaças, de liderar a resposta a incidentes que mesclam falhas técnicas e engano humano, e de traduzir tudo isso em uma estratégia de risco que o conselho compreenda e apoie. É um papel que exige visão estratégica, liderança e pragmatismo. Porque, no fim das contas, a segurança não é um produto, mas um estado de resiliência contínua do negócio.